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Cúpula do Itaú implode após escolha do novo presidente

Publicado em Itaú Terça, 10 Novembro 2020 11:47

 

A sucessão do cobiçado cargo de CEO do Itaú renderia um romance típico do jogo de vaidades e egos que forma o universo dos executivos do mercado financeiro. Com todos os clichês desse roteiro, houve até um comunicado oficial do Itaú afirmando que a debandada dos diretores que disputaram a posição seria algo ‘natural’, reforçando a ideia de que a alta da cúpula do banco pensava prioritariamente nos interesses pessoais de cada um. O

 

Itaú admitiu, com a desculpa para a crise corporativa, que não considera nocivo para os negócios que seus executivos se digladiem e pensem, sobretudo, em seus próprios interesses, colocando-os acima da instituição.

 

O que chama a atenção, ademais, é que esse tipo de ambição desmedida e reações intempestivas em caso de contrariedade são característicos de gente que trabalha em banco de investimento, como mostrou o livro Fogueira das Vaidades, de Tom Wolfe, um clássico sobre os egos de executivos ambiciosos de Wall Street. Não é o caso do Itaú, que tem as chamadas ‘pessoas comuns’ entre seus clientes, aquelas que demandam crédito imobiliário, aplicação em poupança, produtos de previdência. Pergunta-se: com tantas diferenças entre si, em que ambiente os executivos tomavam decisões em atenção a estes clientes?

 

Descontentes com a nomeação, sete dias atrás, do executivo Milton Maluhy para suceder o atual presidente Cândido Bracher, os dois principais executivos da instituição anunciaram que estão fora do jogo. O CEO do BBA e diretor de Atacado, Caio David, e o diretor de Varejo, Marcio Schettini, saíram após ficar claro que haviam perdido a vez na escalada ao topo da instituição. Há alguns meses, a vice-presidente Claudia Politanski foi a primeira perceber que também não subiria ao comando e também pediu demissão.

 

Os dois donos do Itaú Unibanco, Roberto Setubal e Pedro Moreira Salles, são apontados nos bastidores do mercado financeiro como diretamente responsáveis pela implosão do comando da instituição. Eles não chegaram a um consenso sobre o nome que iria suceder Bracher, mesmo tendo se dedicado ao assunto durante os últimos anos. Setubal fixou-se a favor de Schetini, de 56 anos, enquanto Moreira Salles não abriu mão da indicação de David, 52. Sem consenso, recaíram sobre o jovem Maluhy, de 42 anos, como se escolhessem um ‘tertius’, para o topo do banco. Só que não.

 

Um outro pecado original da sucessão na presidência do Itaú também recai sobre Setubal e Moreira Salles. Já na ocasião da nomeação de Bracher para a presidência da instituição, eles deixaram claro aos principais executivos que o sucessor do próprio Bracher sairia daquele grupo restrito, despertando o espírito autofágico suicida.

 

Imediatamente, a promessa detonou uma corrida de individualismos, na qual cada executivo procurava se fortalecer tomando decisões políticas pessoais, questionáveis do ponto de vista do conjunto de interesses do Itaú.  Feito em 30 de novembro, o anúncio do nome de Maluhy causou estranheza no mercado. Foi bastante comentado nos bastidores que a nota de anúncio da indicação não trouxe qualquer comentário aspeado de Setubal ou Moreira Salles, um padrão clássico em situações dessa importância.

 

O agora demissionário diretor-geral de varejo Schettini foi o que mais se sentiu ‘caroneado’ pela escolha, uma vez que Maluhy havia sido seu chefiado. Com estilo mercurial e acelerado, ele era considerado um dos favoritos ao cargo, trabalhando com a garantia do apoio de Roberto Setubal.

 

O também demissionário David, até há pouco presidente do BBA, também pediu as contas após descobrir que a sustentação de Moreira Salles não lhe valeu subir ao degrau mais alto. A saída da vice-presidente Claudia Politanski, ligada a Setubal, completa o quadro. Sabe-se que, internamente, ela era uma das executivas mais fortes do grupo, impondo sua vontade sempre com energia e frieza. Ela foi a primeira a comunicar sua decisão de saída. 

 

Para o Itaú, a história serve de lição. Esse tipo de comportamento dos chefões deverá, certamente, pautar o estilo e a cultura de todos os executivos de carreira do Itaú. Ou seja, cada um por si, sem espaço para valores como amizade e sentido de trabalho em equipe. Valeria, para eles, resgatar a expressão do latim. Memento Mori: lembre-se que você é mortal.

 

Fonte: Brasil 247 - Do site Brasil 2 Pontos